Prefeitura de São Paulo já gastou R$ 677 milhões com ônibus parados na pandemia
A Prefeitura de São Paulo gastou cerca de R$677 milhões em apenas 13 meses a fim de compensar as perdas sofridas por companhias de ônibus em relação ao número de passageiros durante a pandemia da Covid-19.
No período, aproximadamente 20% da frota permaneceu nas garagens enquanto a redução de usuários chegou a 47%.
Apesar dos passageiros não estarem circulando em grande número, a capital paulista seguiu registrando ônibus lotados em meio à crise sanitária.
Condutores afetados
Desde que a pandemia começou, cerca de 195 motoristas e cobradores faleceram em decorrência da Covid-19 na cidade de São Paulo.
Além dos casos de morte, cerca de 2.214 profissionais da área se infectaram com base nos registros do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo, apresentados em junho.
A coordenadora de pós-graduação em Planejamento e Gestão de Território da UFABC, Silvana Zioni afirmou que “A prefeitura expõe indiretamente passageiros, motoristas e cobradores à covid-19 enquanto remunera empresas que deixam ônibus na garagem”.
De acordo com Zioni, “Se a regra básica na pandemia é o distanciamento social, todos os ônibus complementares deveriam estar na rua”.
O urbanista Rafael Drummond, membro do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte, apontou que “Antes da crise, a quantidade de ônibus circulando já era insuficiente. Não era melhor manter todos os ônibus em circulação para evitar aglomeração na pandemia?”.
Valores
Nunca havia ocorrido o pagamento de indenização com dinheiro público para a manutenção de ônibus parados em São Paulo.
No entanto, o pagamento foi negociado ainda em março de 2020, quando a prefeitura pagou R$49 milhões por 14% da frota na garagem, pela gestão do então prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), que faleceu em maio deste ano.

A previsão é que o benefício continue sendo pago enquanto durar uma pandemia. Do ponto de vista das empresas o impacto sentido nas vendas de passagens foi de apenas 16% no primeiro ano de pandemia, mas chegou a cair pela metade.
Até o momento saíram dos cofres públicos cerca de R$677 milhões conforme os dados da SPTrans. Sendo assim, a cada ônibus parado houve um repasse médio de R$691 por dia.
Empresa
Em nota, a SPTrans afirmou que “Os valores são referentes ao custo mínimo de manutenção e conservação da frota”.
Além disso, os pagamentos asseguram a manutenção dos empregos “de cerca de 50 mil motoristas, cobradores e fiscais durante uma pandemia”.
A entidade também aponta que “ônibus recuperados estão disponíveis para voltar à operação quando o estado emergencial acabar”.
A SPTrans também indica que o número de passageiros em abril do ano passado chegou a 70%, mas a média anual foi 47% menor.
Sendo assim, ao considerar a compensação extra, a prefeitura custeou R$6,58 bilhões em 2020 para as empresas de vans e ônibus de São Paulo, cuja frota circulante foi de 12.826 veículos.
Pesquisa suspensa
Apesar dos dados apontados a SPTrans não realizou durante a pandemia o IQT, uma pesquisa capaz de avaliar o desempenho das empresas.
De acordo com a última avaliação realizada em 2019, em uma escala de 0 a 100, a avaliação foi considerada apenas regular, com nota entre 60 e 75,99.
Ao ser questionada sobre a suspensão do índice, a SPTrans disse que o desempenho das companhias é analisado agora “pelas áreas internas da SPTrans, pelo seu Conselho de Administração e pela SMT”.
Além disso, a entidade afirmou que utiliza “as reclamações como ferramenta importante para guiar este trabalho”.
Acesso à informação
Os dados apresentados pela SPTrans só foram disponibilizados pela própria entidade após um pedido de Drummond em conjunto com o UOL e especialistas vinculados ao PSOL, sobre a Lei de Acesso à Informação.
A dificuldade em acessar os dados se deu, pois a prefeitura parou de alimentar o site com as planilhas mensais de geração das empresas de ônibus. Somente depois da LAI foi descoberto que o valor foi incluído na “Revisão de Remuneração pelo Transporte Coletivo”, um item existente desde julho de 2013.
Sendo assim, foi possível notar que o valor mencionado anteriormente não foi destacado nas planilhas de prestação de contas depois das portarias.
Fonte: UOL
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