Preço do frango sobe 40% após novos aumentos da conta de luz


A crise hídrica que o Brasil vem enfrentando nos últimos meses, a pior em 91 anos, começa a impactar em outros valores, além da própria conta de luz. Entre os produtos afetados pelas repetidas altas na tarifa da energia está o frango, que ficou com o preço 40% mais alto em um intervalo de 12 meses.

É o que indica um levantamento da Associação Paulista de Supermercados (Apas), que ainda destaca um aumento de 8,6% no preço do frango nos supermercados paulistanos apenas em agosto.

Um dos principais motivos para a alta é a o preço da energia elétrica, pois ela é fundamental para a criação das aves. E como a conta de luz subiu 21% nos últimos 12 meses, o consumidor também sente o peso da crise hídrica nos supermercados.

preço do frango
Alto consumo de energia elétrica na cadeia de produção do frango justifica o impacto. Foto: Reprodução/Canva

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Como a conta de luz interfere no preço do frango?

Conforme explica o economista da Apas, Diego Pereira, o caso do frango é um exemplo do efeito dominó que os aumentos da bandeira tarifária causam.

O sistema de bandeiras tarifárias surgiu em 2015, e serve para repassar ao consumidor os custos do acionamento das usinas termelétricas, que é necessário quando o nível de água nos reservatórios das hidrelétricas está baixo.

Nesse caso, as bandeiras geram uma taxa adicional na conta de luz, e quanto mais crítica a situação, maior o nível da bandeira. Desde 2020, durante o atual período de crise hídrica, o patamar mais alto das bandeiras já foi reajustado em 127%, ou seja, mais que dobrou em menos de um ano.

A partir de setembro, os brasileiros começam a pagar a chamada “bandeira da escassez hídrica”, que é 58% mais cara do que o antigo nível mais alto, a vermelha patamar 2. Com essa bandeira, a taxa adicional é de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos.

Mas o que isso têm a ver com o preço do frango?

Conforme explica o economista da Apas, a indústria do frango utiliza energia elétrica 24 horas por dia, pois isso acelera o processo de maturação das aves e de produção de ovos. Sendo assim, o aumento na tarifa também é repassado para toda a cadeia de produção.

Além disso, Pereira ainda comenta que os constantes aumentos na tarifa de energia se juntaram a outra questão que já vinha afetando o preço do frango e seus derivados: a alta global das commodities, principalmente milho e soja, ingredientes da ração destas aves.

Diante deste cenário, a Apas indica que o frango acumula alta de 21,42% em 2021, e de 40,44 nos últimos 12 meses. Assim, ele teve um aumento ainda maior que o da carne bovina, que foi de 36% em 12 meses.

Frango pode ficar ainda mais caro

Se a alta no preço do frango parece ruim o suficiente, a situação ainda deve piorar. Isso porque os dados captados pela Apas ainda não levam em conta o reajuste de setembro.

A gente aguarda um novo reajuste, que já está contratado em decorrência desses ajustes tarifários da energia que a gente vêm acompanhando”, destacou Pereira em entrevista à BBC News Brasil.

Com isso, o consumidor acaba enfrentando um problema sério no orçamento, já que o Frango é bastante utilizado quando a carne bovina fica mais cara.

Nesse cenário, a carne de porco aparece como alternativa, pois ela registrou queda de preços tanto em agosto (-1,61%) quanto no acumulado de 2021 (-6,76%). Entretanto, cabe destacar que os dados do Apas são referentes aos preços dos supermercados de São Paulo.

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Carne também pode ficar mais cara com o aumento na conta de luz?

Apesar de a produção da cadeia produtiva da carne vermelha não ter a mesma dependência que a do frango, o aumento na conta de luz também deve afetar o seu preço.

Segundo estimativas, os reajustes nas bandeiras tarifárias podem gerar acréscimo de aproximadamente R$ 1 por quilo de carne.

Conforme destaca o presidente do Sindiaçougue, Sílvio Yassunaga, nos últimos meses do o consumo de energia dos equipamentos de refrigeração aumenta, por conta do calor mais acentuado. Assim, somando essa questão ao aumento da tarifa, o preço da carne também pode ser afetado.

Mas ainda de acordo com Yassunaga, isso é apenas uma projeção, pois o impacto para o consumidor final depende do comportamento do mercado.

Fontes: BBC Brasil via G1 e Capitalist.

Jornalista, ator profissional licenciado pelo SATED/PR e ex-repórter do Jornal O Repórter. Ligado em questões políticas e sociais, busca na arte e na comunicação maneiras de lidar com o incômodo mundo fora da caverna.