Brasil tem o 3° lugar no ranking de inflação da América Latina, só fica atrás de Argentina e Haiti
Com a disparada de preços que vem diminuindo cada vez mais o poder de consumo do brasileiro, a inflação chegou a 9% no acumulado em 12 meses até julho e fez o país atingir o terceiro maior índice da América Latina.
Segundo o estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), órgão da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os únicos países latino-americanos com inflação acumulada mais alta que o Brasil são Argentina e Haiti, nações que passam por graves crises.
Mas cabe destacar que o levantamento não considera o desempenho da Venezuela, que apresenta indicadores distorcidos em meio ao colapso econômico que atinge o país. Com isso, não é possível comparar a inflação venezuelana com a de outros países da América Latina.
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Desvalorização do real piora situação do Brasil
Conforme destaca André Braz, pesquisador do Ibre/FGV, o Brasil teve uma desvalorização de moeda maior do que os outros países, principalmente por conta do ambiente de incerteza em um momento de juro baixo.
Com a incerteza crescendo e os juros em 2% – lá no início do ano -, ninguém queria ficar aqui. O investidor foi para mercados mais seguros e isso ajudou a desvalorizar a nossa moeda”, explicou o pesquisador em entrevista ao G1.
Diante desse cenário, o ritmo da inflação no Brasil vem surpreendendo e preocupando os analistas, e a avaliação é que boa parte da economia foi impactada pela alta de preços.
Hoje, a estimativa de analistas consultados pelo Banco Central é que a inflação deve encerrar o ano em 7,58%. Mas as previsões do relatório da Focus para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) têm piorada semanalmente, e já estão bem acima da meta de 3,75% estipulada pelo governo.
E essa disparada de preços, principalmente dos alimentos, vem ajudando a pressionar a inflação desde o ano passado.
Isso acontece porque ao mesmo tempo em que itens básicos, como soja e milho, aumentaram no mercado internacional, houve uma queda no valor do real que ajudou a provocar um aumento da exportação. A consequência dessas situações foi um desabastecimento do mercado local que fez com que os preços subissem.
Mas as primeiras previsões para 2021 não eram tão ruins quanto as atuais. No início do ano, os economistas estimavam que o IPCA ficaria em 3,35%.
Entretanto, as já citadas incertezas fiscais se juntaram a recente crise institucional gerada por declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Juntas, essas duas situações impedem um queda no valor do dólar e provocam um fuga de capitais do Brasil, desvalorizando ainda mais o real.
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Ranking de inflação na América Latina
Entre os países da América Latina, inflação brasileira só fica atrás de dois países que passam por problemas sérios e duradouros: Argentina e Haiti.
A Argentina, que enfrenta uma longa crise econômica, fechou o período com inflação de 51,8%. Já no Haiti, atingido por desastres naturais e uma ebulição política e social, o índice foi de 17,9%.
O levantamento do Ibre/FGV inclui 18 países latino-americanos, e considerando a inflação acumulada em 12 meses até julho apresenta o seguinte ranking:
- Argentina – 51,8%
- Haiti – 17,9%
- Brasil – 9,0%
- República Dominicana – 7,9%
- Uruguai – 7,3%
- México – 5,8%
- Chile – 4,5%
- Honduras – 4,3%
- Nicarágua – 4,1%
- Colômbia – 4,0%
- Guatemala – 3,8%
- El Salvador – 3,4%
- Peru – 2,7%
- Panamá – 2,4%
- Costa Rica – 1,4%
- Paraguai – 1,2%
- Equador – 0,5%
- Bolívia – 0,2%
No ranking de 2020, que também tinha Argentina (36,1%) e Haiti (19,2%) nas duas primeiras colocações, o Brasil apresentou a sexta maior inflação acumulada no período, 4,5%.
Mas para quem esperava uma melhor em 2021, com índice abaixo de 4%, o que se viu foi justamente o contrário. Isso porque os problemas já mencionados não foram os únicos que impactaram nos resultados brasileiros.
Outros fatores que influenciam o agravamento na crise do país são os repetidos aumentos nos preços dos combustíveis e da conta de luz.
“A inflação está muito disseminada. Não é só mais uma inflação de alimentos. É uma inflação de preços administrados, tem gasolina, energia elétrica. É uma inflação também de preços industrializados, vestuários, bens duráveis. E agora de serviços”, destaca Solange Srour, economista-chefe do banco Credit Suisse.
Para piorar, o caso da tarifa de energia ainda está ligado à outra crise que o Brasil vem enfrentando nos últimos meses: a crise hídrica, que é a pior em 91 anos. Segundo especialistas, apesar da gravidade da situação, o governo vem enfrentando esta crise de forma tímida e tardia, o que pode causar um apagão no país neste ano.
Fonte: G1.