58% da população diz que militares da ativa não deveriam ter cargos públicos

Felipe Matozo

12/07/2021

Segundo o Datafolha, a maioria dos brasileiros é contra a prática de dar cargos públicos para militares da ativa. A pesquisa mais recente do instituto mostra que 58% da população acha que fardados não deveriam ser indicados pelo governo para funções da administração pública.

As recentes crises envolvendo militares no governo federal, como a gestão do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, parecem ter feito a reprovação entre os brasileiros aumentar. Em maio de 2020, o índice era de 52%, e de 54% no mesmo mês deste ano.

Além disso, 62% da população também se diz contra a participação de militares em atos políticos. Para a maior parte das pessoas, atitudes como a do próprio Pazuello, que subiu em um palanque com o presidente no final de maio, não deveriam acontecer.

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Número de militares em cargos públicos no governo Bolsonaro é alto. Foto: Fernando Souza/AFP

E não é apenas a população que é contra a participação de militares da ativa em manifestações políticas. O próprio Estatuto dos Militares proíbe esse tipo de ação.

De acordo com o levantamento, os eleitores de Jair Bolsonaro (sem partido) são os que mais apoiam a presença de militares em atos políticos. Entre aqueles que pretendem votar pela reeleição do presidente em 2022, a aprovação à prática ilegal é de 56% e 57% nos dois cenários simulados pelo Datafolha.

Enquanto isso, entre os eleitores que declaram voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a grande maioria acredita que é preciso cumprir a lei: 71% e 72% nas duas projeções do instituto. Em relação às intenções de voto, Lula vence Bolsonaro por 46% a 25% em ambos os cenários.

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Militarização de cargos públicos no governo

Apesar de a presença de militares em manifestações políticas ser proibida, Pazuello não foi punido por sua atitude. Além disso, o Exército ainda impôs 100 anos de sigilo ao processo administrativo contra o ex-ministro, que também é investigado pela CPI da Covid.

Mesmo com uma gestão controversa no Ministério da Saúde, o general tem prestígio com Bolsonaro, e ganhou novo cargo no Planalto. Atualmente, Pazuello é secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Quando o general foi investigado pelo Exército pela participação em ato político, Bolsonaro o defendeu publicamente e atuou nos bastidores para impedir uma punição. Como o presidente agiu para influenciar o Comando do Exército e preservar Pazuello, o episódio repercute mal internamente na Força até hoje.

Em seu governo, Bolsonaro mais que dobrou o número de militares em cargos públicos. Segundo levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), o número de militares em cargos civis chegou a 6.157 em julho do ano passado, muito acima dos 2.765 que haviam em 2018, último ano do governo Michel Temer.

Também no ano passado, o governo Bolsonaro passou a ter, proporcionalmente, mais ministros militares do que a Venezuela. Além disso, logo no início do seu mandato, em 2019, o presidente tinha mais ministros militares do que João Figueiredo, Ernesto Geisel e Emílio Garrastazu Médici, presidentes durante a ditadura.

Entre quem pretende votar em Bolsonaro no ano que vem, a presença de militares em cargos públicos é defendida por 78% e 77% dos eleitores, nos dois cenários simulados pelo Datafolha. Já entre os eleitores de Lula, que lideras as pesquisas, a prática é reprovada por 76% e 75%.

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Presença de militares no governo gera crises

No início do ano passado, Bolsonaro se viu politicamente isolado e trouxe militares em peso para o núcleo do seu governo. Entretanto, desde o início do mandato há atritos entre os fardados e a chamada “ala ideológica”.

Outra questão delicada envolvendo a relação entre o presidente e militares da ativa é a frequência de crises entre Bolsonaro e os demais Poderes. Isso porque o presidente tenta usar o apoio que tem no meio para tentar intimidar os adversários, e membros das Forças Armadas acabam envolvidos em tensões políticas.

Neste ano, Bolsonaro chegou a demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, após reclamar de falta de apoio de comandantes do Exército durante a pandemia.

No episódio mais recente de tensão, a cúpula militar reagiu a um comentário do senador Omar Aziz (PSD-AM) com uma nota que causou polêmica. Na ocasião, Aziz, que é presidente da CPI da Covid, falou em “lado podre” das Forças Armadas quando comentou sobre o alto número de acusações de irregularidades envolvendo militares em cargos públicos.

Fontes: Folha de S. Paulo e BBC.

Felipe Matozo
Escrito por

Felipe Matozo

Jornalista, ator profissional licenciado pelo SATED/PR e ex-repórter do Jornal O Repórter. Ligado em questões políticas e sociais, busca na arte e na comunicação maneiras de lidar com o incômodo mundo fora da caverna.