Brasil teve uma greve no transporte público a cada 4 dias em 2021
O setor de transporte público é um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19 no Brasil. Por conta da queda no número de passageiros que faz diminuir a arrecadação das empresas e dos efeitos da crise para os trabalhadores do setor, o país registrou uma greve a cada quatro dias no transporte público.
Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Entre janeiro de 2021 e o último dia 17 de junho foram registradas 41 paralisações em 17 estados e no Distrito Federal. Além de greves e paralisações, também há registros de rompimentos de contrato e até mesmo intervenções do poder público.
O levantamento do Idec aponta que os estados que mais registraram paralisações no período foram São Paulo (10), Paraná (7), Rio Grande do Sul (5) e Minas Gerais (4). Em geral, os principais motivos para as greves são corte de benefícios, atrasos de salários e demissões.
Para Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade Urbana do Idec, a pandemia evidenciou as falhas na gestão do transporte público brasileiro e cada greve reflete estes problemas.
Conforme explica Calabria, a venda de bilhetes é o que mantém o sistema. Com as medidas de restrição para conter a disseminação do novo coronavírus, o número de passageiros caiu, e a dependência da tarifa fez as empresas entrarem em crise.
De acordo com o coordenador do Idec, este modelo ainda faz encarecer a tarifa, prejudicando o usuário. Além disso, os contratos ainda fazem com que o sistema dependa de uma lotação mínimo para ter lucro.
A pandemia, que obriga a não ter lotação, tira a fonte de receita do sistema e o torna claramente insustentável, gerando as greves, as crises contratuais e as intervenções que a gente tem visto”, explicou Calabria em entrevista ao G1.
Veja também: Aumento da gasolina – afetando a inflação, preço ultrapassa R$ 5,50 em 20 estados
Prejuízos para as empresas de transporte público
Segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), 25 empresas operadoras de ônibus e um consórcio precisaram suspender as operações temporária ou definitivamente ou sofreram intervenção do poder público nos últimos 14 meses.
Além disso, a NTU contabilizou 76,8 mil demissões neste período, além de suspensões de contratos e reduções de salários permitidas durante a pandemia, e prejuízos de R$ 14,2 bilhões.
No Rio de Janeiro, a prefeitura da cidade fez uma intervenção no BRT, sistema de ônibus rápido, em março deste ano. A medida foi necessária para garantir o funcionamento do sistema devido “à péssima prestação do serviço”, justificou a prefeitura em nota.
Os sistemas de trem e metrô de cidades brasileiras também enfrentam crises semelhantes. Segundo dados da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANP Trilhos), o número de passageiros caiu pela metade no país, de 11 milhões para 5,3 milhões por dia útil, desde o início da pandemia.
No caso dos trens e metrôs, a ANPTrilhos estima R$ 11 bilhões em perdas na arrecadação desde os primeiros casos registrados de Covid-19 no país, entre fevereiro e março de 2020.
Um dos casos mais críticos é o da Supervia, empresa responsável pelo serviço de trens urbanos do Rio de Janeiro. No início de junho, a concessionárias entrou com um pedido de recuperação judicial após acumular uma dívida de R$ 1 bilhão. Desde março do ano passado, a empresa deixou de transportar 102 milhões de passageiros.
Mas chama a atenção o fato de que mesmo com grande queda no número de passageiros, os brasileiros ainda enfrentam problemas de superlotação, sendo que as linhas que atendem áreas mais pobres das capitais são as mais afetadas.
Segundo Calabria, o fato de que trabalhadores de renda mais baixa não podem ficar em casa e a falta de regulação do setor, que faz as empresas diminuírem a frota para economizar, justificam o problema.
Presidente vetou auxílio financeiro à categoria
Em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional aprovou um auxílio de R$ 4 bilhões para o setor de transporte público. A medida atenderia cidades com mais de 200 mil habitantes e tinha como condição que as empresas mantivessem a frota necessária para atender a população.
No entanto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou integralmente o projeto, alegando questões orçamentárias.
Segundo o coordenador de Mobilidade Urbana do Idec, o sistema de transporte precisa de socorro federal urgente e de mudança no modelo. Para Calabria, sem auxílio para as cidades o transporte público brasileiro não irá se salvar.
Fonte: G1.
Veja também: O que é mais barato: encher o tanque ou abastecer só quando for sair? 7 Dicas para economizar combustível