Por que Bolsonaro foi chamado de ‘Tchutchuca do Centrão’?
Entenda aqui por que o youtuber de direita Wilker Leão chamou Bolsonaro de "Tchutchuca do Centrão"; o que isso quer dizer?
Na manhã da última quinta-feira (18), uma situação envolvendo o presidente Jair Bolsonaro ganhou destaque e teve bastante repercussão nas redes sociais.
Isso porque ele perdeu a cabeça e acabou indo para cima do youtuber Wilker Leão nos arredores do Palácio da Alvorada após ser chamado de “safado”, “vagabundo” e, o que parece mais ter incomodado ele, “tchutchuca do centrão“.
Mas por que Bolsonaro foi chamado de “tchutchuca do centrão” por um youtuber que se diz de extrema direita e é bastante crítico até mesmo à esquerda? Isso é o que você descobre a seguir!
Por que Bolsonaro foi chamado de “Tchutchuca do Centrão”?
Para entender isso, precisamos lembrar do discurso adotado por Jair Bolsonaro, à época filiado ao Partido Social Liberal (PSL), nas eleições de 2018.
Isso porque, naquele momento, para aumentar sua popularidade e se colocar como um membro da “nova política” (mesmo já sendo deputado federal havia 27 anos), ele era bastante crítico em relação ao “Centrão”, afirmando que, se ganhasse o cargo de presidente, governaria sem fazer acordos especiais com os integrantes da Câmara dos Deputados.
O “Centrão” nada mais é do que um dos grupos formados no Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados, que se unem para ter maior influência no parlamento e defender seus interesses de modo conjunto.
O Centrão se difere dos demais grupos do Congresso por não pender nem para a esquerda nem para a direita. Em vez disso, eles se posicionam justamente “ao centro“, estando abertos para negociar com o representante do executivo (o presidente), independente de quem seja.
Porém, a negociação geralmente envolve liberação de verbas (como o Orçamento Secreto, que especialistas já têm chamado de “Secretão” por considerarem um claro exemplo de corrupção) e indicações a cargos públicos. Em troca, integrantes do Centrão aprovam medidas que beneficiam o governo.
O problema é: apesar de bastante crítico, depois que assumiu a presidência, Bolsonaro vem mantendo uma relação bastante próxima com o Centrão, liberando verba atrás de verba para aprovação de medidas.
O já mencionado “Orçamento Secreto” é um exemplo disso. Também chamada “Emenda do Relator”, a prática foi iniciada em 2020 e consiste na liberação de verbas públicas a projetos definidos por parlamentares. Ele é “secreto” por não sabermos para onde o dinheiro está indo nem como ele vem sendo aplicado.
Estimativas indicam que, em 2021, o orçamento secreto foi de R$ 16 bilhões, valor bem acima de outros escândalos de corrupção, como do próprio Mensalão (aprox. R$ 101,6 milhões segundo estimativas) no qual o Partido dos Trabalhadores (PT) esteve envolvido.
Mudança de Bolsonaro em relação ao Centrão
Para exemplificar a mudança drástica de Bolsonaro em relação ao Centrão, separamos algumas falas do ex-capitão a respeito do bloco ao longo do tempo.
Em 2018, Bolsonaro afirmava o seguinte em relação ao “Centrão”:
“Dirigentes do Centrão são alta nata de tudo o que não presta” (Jair Bolsonaro, 21 de julho de 2018)
“O que vem sendo feito ao longo dos últimos anos? O presidente indica os seus ministros, de acordo com interesses político-partidários, tem tudo para não dar certo. Qual é a nossa proposta? É indicar as pessoas certa para os Ministérios certos. Por isso nós não integramos o Centrão” (Jair Bolsonaro, 1º de setembro de 2018)
Ontem, após o desentendimento com Wilker Leão, Bolsonaro fez a seguinte afirmação a respeito do bloco:
“Eu preciso aprovar as coisas no Parlamento, certo? Se for para aprovar sozinho, eu sou ditador. Fecha tudo, fecha Supremo, fecha Congresso, fecha tudo e eu resolvo as coisas sozinho. Eu tenho que ter o apoio do Parlamento. Os partidos de centro são quase 300 dos 513 parlamentares. Como vou aprovar um projeto simples de lei dispensando 300 votos?” (Jair Bolsonaro, 18 de agosto de 2022)
Publicamente, após o incidente, o youtuber Leão afirmou que se arrependeu de ter chamado Bolsonaro de “vagabundo” e “safado”, mas manteve seu posicionamento em relação ao “Tchutchuca do Centrão”.
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