90% dos candidatos a vaga de emprego aceitariam a ganhar menos para voltar ao mercado de trabalho

Felipe Matozo

03/08/2021

Os efeitos da crise econômica no Brasil continuam sendo percebidos no mercado de trabalho. Um dos mais recentes foi observado em uma pesquisa que indica que a grande maioria das pessoas aceitaria regredir na carreira para conseguir um emprego.

Com o desemprego atingindo índices recordes e derrubando a renda dos brasileiros90% dos candidatos a vagas de emprego aceitariam ganhar salários menores para serem contratados, segundo estudo da consultoria de RH Luandre.

Os dados indicam que a perspectiva dos brasileiros com o mercado de trabalho é ruim por conta da falta de oportunidades, inclusive entre as pessoas que estão desempregadas há no máximo três meses. Até mesmo neste grupo a maioria dos profissionais aceitariam reduzir o próprio salário.

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Candidatos consideram reduzir salário ou cargo para conseguir vaga de emprego. Foto: Reprodução/CTB

Outro índice que aponta para o pessimismo do trabalhador brasileiro em relação ao mercado de trabalho é sobre os profissionais dispostos a darem um passo atrás em suas carreiras. Segundo a pesquisa, 85% dos candidatos aceitariam um cargo inferior para voltar ao mercado, independentemente de idade e formação.

Mas as pessoas se mostram mais dispostas a reduzir o salário do que o cargo, conforme destacou a superintendente de seleção da Luandre, Francine Silva. Para ela, isso acontece porque manter o cargo facilita a busca por oportunidades futuras com salários maiores, o que representa uma recuperação menos drástica.

De acordo com a pesquisa, entre os profissionais que não aceitariam um cargo inferior, 68% consideraria aceitar um salário menor.

Para o estudo, a Luandre entrevistou 935 profissionais desempregados, com idade entre 18 e 60 anos. Entre eles, 52% têm ensino médio completo e 30% ensino superior.

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Regredir no mercado de trabalho pode ser prejudicial

De acordo com a especialista da Luandre, é preciso ter cuidado com as reduções em cargos, principalmente quando elas são drásticas. Trocar um cargo de gerência por um de assistente, por exemplo, pode dificultar ainda mais a recolocação no mercado de trabalho, pois gera certa resistência por parte das próprias empresas.

Francine afirma que mesmo em caso de necessidade e urgência, os profissionais precisam planejar a redução de salário e, principalmente, de cargo. Isso porque é comum que as empresas recusem esses candidatos, pois sabem que eles tendem a trocar de emprego na primeira oportunidade.

Por conta disso, a especialista recomenda reduzir apenas um nível, como passar de analista para assistente ou de gerente para supervisor, por exemplo. Dessa forma, a retomada da carreira não fica tão difícil e as empresas confiam que o trabalhador irá se dedicar efetivamente.

Mas apesar das dicas de especialistas, a crise põe muitos brasileiros em uma “sinuca de bico”, forçando profissionais a escolherem entre reduções ou desemprego.

Nesse cenário, o estudo aponta que 76% dos candidatos consideram mudar até mesmo de carreira para retornar ao mercado de trabalho. Apenas 15% dos entrevistados se mostraram resistentes em permanecer na mesma área de atuação.

Conforme destacou o CEO da Luandre, Fernando Medina, um dos principais motivos para essa situação é o grande número de pessoas concorrendo por uma vaga. Com o desemprego em alta há meses e muitos candidatos aceitando reduções de cargo e salário, quem quer vagas dentro das suas pretensões encontra ainda mais dificuldades por concorrer com profissionais que têm mais experiência.

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Falta de empregos também aumenta trabalho informal

Além de aceitar reduções de salário e cargo, muitos brasileiros também são empurrados para a informalidade e aceitam empregos sem carteira assinada por conta da crise.

Segundo o IBGE, no trimestre encerrado em maio, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,6% e o número de trabalhadores informais chegou a 34,7 milhões. Além disso, o país está com 1,3 milhão de profissionais com carteira assinada a menos do que um ano atrás.

E os dados do IBGE ainda revelam que mais do que aceitar redução de cargo e salário, muitos brasileiros também abrem mão de direitos trabalhistas para conseguir um emprego.

Segundo a pesquisa, aumentou em 586 mil o número de trabalhadores atuando em empresas sem carteira assinada. Ou seja, muitas empresas estão aproveitando o cenário de crise e desemprego recorde para contratar profissionais sem registro formal.

Dessa forma, o trabalhador não tem acesso garantido aos direitos estabelecidos pela Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), como férias remuneradas, pagamento de horas extras e seguro-desemprego.

Fonte: G1.

Felipe Matozo
Escrito por

Felipe Matozo

Jornalista, ator profissional licenciado pelo SATED/PR e ex-repórter do Jornal O Repórter. Ligado em questões políticas e sociais, busca na arte e na comunicação maneiras de lidar com o incômodo mundo fora da caverna.

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