Índice de desigualdade social e de felicidade do brasileiro é pior em 15 anos
O brasileiro está menos feliz e vivendo em um país ainda mais desigual. É o que diz a pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, que aponta que em 2020 o país atingiu o pior nível de satisfação com a vida desde 2006, e que o índice de desigualdade social bateu recorde neste ano.
Segundo o estudo realizado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), a população mais pobre sentiu os impactos mais fortes com a diminuição de renda e de bem-estar.
Além disso, pela primeira vez na série histórica a renda média do brasileiro ficou abaixo de R$ 1 mil. Entre o primeiro trimestre de 2020 e o de 2021, o valor caiu de R$ 1.122 para R$ 995, atingindo o pior patamar já registrado.
Outro índice que chegou ao menor valor da série histórica é o de bem-estar social. Nesse caso, o indicador que combina prosperidade com igualdade despencou 19,4% no intervalo de um ano, entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021.
Quanto à desigualdade social, ela é medida pelo índice de Gini, que avalia a distribuição de riquezas de determinado lugar. No último ano, o índice subiu de 0,642 para 0,674, o que é apontado como “um grande salto de desigualdade“.
A pesquisa do FGV Social detalha alguns índices relacionados a sentimentos comuns dos brasileiros para retratar a piora no cenário de satisfação com a vida:
- Raiva: de 19% em 2019 para 24% em 2020;
- Preocupação: de 56% para 62%;
- Estresse: de 43% para 47%;
- Tristeza: de 26% para 31%;
- Diversão: de 72% para 66%.
Segundo Marcelo Neri, diretor do FGV Social e coordenador da pesquisa, há uma série de situações que explica esta queda no bem-estar do brasileiro. Além da diminuição de renda, também estamos enfrentando perdas constantes e risco de sobrevivência com a Covid-19, passando mais tempo sozinhos, entre outras mudanças que ajudam a explicar a perda de felicidade do brasileiro.
Veja também: População brasileira ficou 10% mais pobre em 2021
Índice de satisfação com a vida também mostra alta desigualdade social
Para chegar à medida geral de felicidade, o estudo do FGV social considera uma nota de avaliação de satisfação com a vida, em escala de 0 a 10. Essa nota já vinha piorando nos últimos anos e caiu 0,4 pontos entre 2019 e 2020, atingindo 6,1, o que é a menor pontuação da série histórica, que iniciou em 2006.
Entretanto, a desigualdade social brasileira também pode ser observada no índice de felicidade, já que os mais ricos estão mais felizes. A diferença de satisfação com a vida entre as duas pontas subiu de 7,9% em 2019 para 25,5% em 2020.
Enquanto o indicador de felicidade entre os 40% mais pobres caiu de 6,3 para 5,5 entre 2019 e 2020, em meio a um cenário de crise generalizada, alta no preço dos alimentos e desemprego atingindo níveis recordes, os 20% mais ricos parecem estar satisfeitos com a atual situação do país. Neste grupo, o indicador aumentou de 6,8 para 6,9 no mesmo período.
Toda essa queda está concentrada na base da distribuição de renda brasileira, ou seja, uma piora da desigualdade de felicidade”, afirmou Marcelo Neri à Agência Brasil.
O estudo do FGV Social ainda comparou os resultados com os de outros 40 países. Em média, o indicador de felicidade ficou estagnado no restante do mundo, com nota média em torno de 6 pontos.
De modo geral, indicadores objetivos e subjetivos mostram que as desigualdades pioraram no Brasil durante a pandemia, sendo que a perda gerada para o país foi maior do que para o conjunto de 40 nações.
Segundo o coordenador da pesquisa, isso indica que a pandemia fez um estrago maior no Brasil, ao menos em relação aos “aspectos subjetivos”. Neri afirma que talvez seja necessário repensar como estamos lidando com a pandemia em termos de políticas, de enfrentamento, enquanto ação coletiva.
Veja também: Pandemia fez 43% dos jovens pensarem em parar de estudar em 2021
Estudo estima aumento em índices de pobreza e insegurança alimentar
Segundo o estudo “Gênero e raça em evidência durante a pandemia no Brasil: o impacto do auxílio emergencial na pobreza e na extrema pobreza”, publicado pelo pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made/USP), o número de pessoas em situação de pobreza e insegurança alimentar aumentou em 9 milhões um ano após o início da pandemia.
Segundo a pesquisa, o auxílio emergencial de R$ 600 fez a taxa de brasileiros na pobreza cair provisoriamente em 2020. Entretanto, após o governo diminuir o valor do benefício neste ano, o novo auxílio não deve ser suficiente para conter a perda de renda da população, segundo Luísa Cardoso Guedes de Souza, uma das autoras do estudo do Made/USP.
Para a demógrafa, é muito provável que o aumento das desigualdades sociais e o empobrecimento da população continuem após o prazo de recebimento do benefício.
Fontes: Agência Brasil e Correio Braziliense.