Dívidas atingem 76% das famílias. Como amenizar a situação para evitar o crescimento dos valores devidos?
Em fevereiro, famílias com contas em atraso atingiram o maior patamar desde 2010 e 76% dos brasileiros estavam com contas prestes a vencer
Em janeiro, 76% das famílias brasileiras estavam com dívidas a vencer, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mês seguinte, fevereiro, esse índice continuou a subir e alcançou 76,6%, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
Já as famílias que afirmam que estão com contas em atraso alcançaram o maior patamar desde março de 2010, atingindo 27%.
De janeiro para fevereiro de 2022, a alta dos brasileiros com contas próximas do vencimento foi de 0,6 ponto porcentual. Já em comparação com o mesmo período de 2021, o aumento foi equivalente a 9,9 pontos percentuais.
As dívidas a vencer têm origem no cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o crescimento dos juros dificulta que as famílias saiam do patamar de endividadas.
O panorama mostra que, na margem, o custo do crédito mais elevado e o próprio endividamento alto entre as pessoas que vivem no mesmo domicílio dificultam a contratação de novas dívidas e o pagamento dos compromissos na data de seus vencimentos.”
Principais motivos do endividamento
As contas em atraso são realidades para diferentes classes sociais, com as mais diversas condições financeiras. As famílias que ganham até dez salários mínimos alcançaram o maior patamar de endividamento em fevereiro: 77,8%. Os grupos familiares com rendimentos superiores a dez salários mínimos registraram o maior patamar histórico, 72,2%.
O cartão de crédito é o principal vilão causador das dívidas: ele está presente em 86,5% do total de famílias endividadas. Os outros motivos são:
- Carnês: 19,9%;
- Financiamento de Carro: 11,7%;
- Crédito Pessoal: 9,2%;
- Financiamento de Casa: 9,1%;
- Crédito Consignado: 6,5%;
- Cheque Especial: 5,7%;
- Outras dívidas: 2%;
- Cheque Pré-Datado: 0,6%.
Atualmente, o tempo médio de comprometimento das dívidas, que é o período em que a conta demora para ser quitada, está em três meses para 23,8% do total de endividados.
Quem leva mais de um ano para ficar em dia financeiramente, representa 35% do público. De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), por enquanto, não há previsão de melhora neste cenário no país.
O encarecimento do crédito no Brasil e a fragilidade apontada no mercado de trabalho, especialmente em ano eleitoral, devem seguir afetando a dinâmica do endividamento e da inadimplência dos consumidores. Assim, tornam-se necessárias e relevantes as alternativas que suportem o pagamento dos compromissos financeiros assumidos, bem como a renegociação das dívidas e contas não pagas”, informa o relatório da Peic.
Cuidados com cartões e empréstimos
Ao atrasarem o pagamento de uma conta, os brasileiros precisam estar cientes dos juros no Brasil. As taxas de juros médias nas linhas de crédito para pessoas físicas aumentaram de 39,4% em janeiro de 2021 para 46,3% em janeiro de 2022, segundo dados do Banco Central.
Isso vale tanto para o cartão de crédito, quanto para os empréstimos. Dessa forma, a dívida inicial, que pode ser pequena, se torna uma bola de neve rapidamente.
Outro fator que merece atenção dos consumidores é o rotativo do cartão de crédito, que é acionado quando a fatura não é paga. O problema é que ele traz juros altíssimos. Em outubro de 2021, por exemplo, a taxa chegou a 343,55% ao ano. Ainda sim, essa é a realidade de grande parte dos brasileiros.
Informações reveladas pelo Banco Central mostram que, em 2021, a busca pelo rotativo do cartão de crédito foi a maior em dez anos. O crédito concedido chegou a R$ 224,7 bilhões no ano passado, o que representa uma média mensal de R$ 18,7 bilhões. Em 2020, as concessões no cartão de crédito rotativo para pessoa física totalizaram R$182,7 bilhões, ou R$ 15,2 bilhões por mês.