Reabertura de escolas é seguro? Pesquisas dizem que não
Levantamento de pesquisadores que monitoram as políticas de enfrentamento da pandemia de Covid-19 em todo o país aponta que a reabertura de escolas ainda não é uma medida segura.
Os especialistas ligados à Rede de Pesquisa Solidária analisaram medidas de segurança adotadas pelo governo federal e também pelos estados e capitais em relação à volta as aulas, e concluíram que, de modo geral, elas são insuficientes.
O grupo de pesquisadores examinou documentos como decretos, portarias e comunicados oficiais e criou um Índice de Segurança do Retorno às Aulas Presenciais (ISRAP). O índice atribui notas de 0 a 100 para comparar as medidas dos governantes, sendo que quanto maior a nota, maior a aproximação das políticas com as recomendações das autoridades de saúde.
![reabertura das escolas](https://nodetalhe.com.br/wp-content/uploads/2021/07/reabertura-das-escolas.jpeg)
De acordo com os critérios do ISRAP, os governos estaduais se saíram melhor na comparação entre as esferas de poder. As políticas dos estados e do Distrito Federal receberam nota 57 pelo índice, enquanto as prefeituras das capitais tiveram nota 48 e o governo federal apareceu com a menor pontuação, 41.
Na comparação entre os estados, Sergipe, Ceará e Pernambuco se destacaram com as melhores medidas para reabertura de escolas, e atingiram mais de 75 pontos na escala do ISRAP. Enquanto isso, Rio de Janeiro, Roraima e Amapá tiveram notas menores do que a do governo federal.
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Medidas de segurança não são suficientes
Os pesquisadores analisaram providências tomadas por União, estados e municípios desde o início do ano e encontrou falhas nos protocolos de retomada das aulas presenciais.
De acordo com a análise, um dos principais problemas foi a falta de coordenação entre o governo federal e quem está na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Isso fez com que muitos governadores e prefeitos investissem em políticas ineficazes, ao invés de ações que pudessem oferecer mais proteção às escolas.
Além disso, o governo federal também adotou políticas menos rigorosas do que os governos locais, na média. Um dos pontos mais problemáticos foi a falta de orientação para medidas de distanciamento nas salas de aula e para testar alunos e profissionais, o que ajuda a rastrear casos de infecção.
Mas os governos locais também deixaram a desejar nas políticas de reabertura de escolas, segundo os pesquisadores. Entre os motivos para críticas dos especialistas, está a ênfase para medidas menos efetivas para combater a Covid-19, como compra de termômetros e limpeza de superfícies, em vez de testes e distribuição de máscaras de qualidade.
Segundo Lorena Barberia, cientista política da USP e coordenadora do grupo que criou o ISRAP, é preciso melhorar as medidas de prevenção para a reabertura das escolas.
Ainda que o risco de infecções graves em crianças seja baixo, deve demorar para que sejam incluídas na campanha de vacinação, e é por isso que precisamos de protocolos melhores”, disse ela em entrevista à Folha de S. Paulo.
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Reabertura das escolas
Apesar dos riscos, aos poucos as aulas presenciais vão voltando em todo o país. Em São Paulo, por exemplo, o governo estadual anunciou que escolas poderão voltar a receber mais de 35% dos alunos por dia a partir de agosto. Além disso, haverá redução nos limites de distanciamento.
Por outro lado, São Paulo também antecipou a vacinação dos profissionais de educação, medida considerada como uma das mais efetivas para a reabertura das escolas acontecer de forma mais segura. As políticas de imunização de trabalhadores das escolas, inclusive, foram as únicas que receberam nota máxima do índice.
No entanto, mesmo com a vacinação, os especialistas destacam a necessidade de outros cuidados. E é justamente a falta destas ações que chamam a atenção na análise dos pesquisadores.
A distribuição de máscaras de alta qualidade nas escolas, do tipo N95 ou PFF2, por exemplo, só está prevista em protocolos de duas capitais e um estado. Conforme destaca o pesquisador Luiz Canterelli, há muitas medidas simples e que não implicam em custos que vêm sendo negligenciadas em diversos lugares.
De acordo com o estudo, as políticas adotadas pelos governos locais são muito diferentes entre si, e os pesquisadores afirmam que isto mostra como falta coordenação entre as autoridades.
Fonte: Folha de S. Paulo.