Volta do horário de verão ajuda a poupar luz? Entenda a pressão dos empresários
Enquanto o Brasil passa por grave crise hídrica e chega a correr risco de passar por um apagão nos próximos meses, empresários de diversos setores cobram o governo pela volta do horário de verão.
Na última quarta-feira (1º/9), associações de empresas de alimentação, comércio e turismo enviaram ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) um documento pedindo o retorno do mecanismo, afirmando que isso pode representar uma economia de energia relevante diante durante o atual cenário de crise.
Segundo os empresários, a volta do horário de verão pode ajudar os setores citados, principalmente em estabelecimentos como bares e restaurantes, que podem aproveitar o período extra de luz do sol para economizar energia e estender o horário de lazer.
De acordo com as associações, qualquer melhora no orçamento proporcionada pelo horário de verão fará “enorme diferença”. Isso porque as empresas destes setores tiveram grandes prejuízos durante a pandemia, e enfrentam dificuldades para se recuperar.
Outro setor que se uniu à pressão pela volta do horário de verão é o de shoppings centers. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), Glauco Humai, o retorno é necessário neste momento em que a crise hídrica vem se agravando.
Humai explica que foram dois os motivos para a entidade aderir ao movimento. Além da possibilidade de reduzir o consumo de energia, o presidente da Abrasce também destacou um fator psicológico.
A pessoa sai do trabalho na luz do dia e tem um tempo a mais para circular. É intangível, mas percebemos um fluxo maior por volta das 18h30 no horário de verão”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo.
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Fim do horário de verão
O fim do horário de verão foi uma das primeiras medidas de Bolsonaro após assumir a presidência, em 2019. Na época, um estudo do Ministério de Minas e Energia (MME) indicou que o mecanismo já não oferecia uma economia de energia tão relevante.
Segundo o estudo, o período de calor mais intenso se dá no fim da manhã e início da tarde. Com isso, durante o verão os picos de consumo tendem a aumentar nesse horário, já que as pessoas usam mais o ar-condicionado.
Entretanto, com a grave crise hídrica que atinge o país, a pior em 91 anos, especialistas no setor elétrico voltam a defender o horário de verão. Para eles, mesmo que a economia de energia seja pequena, ela pode contribuir no cenário atual. No documento enviado ao presidente, as associações de empresários também fazem esta avaliação.
Como é sabido, estamos diante de uma intensa crise hídrica agravada pela escassez de chuvas, situação que coloca em risco o fornecimento de energia elétrica em parte do Brasil. São muitos os desafios para mitigar o problema e qualquer economia energética se torna agora ainda mais relevante”, destacam as entidades.
Ainda segundo os representantes do movimento, a volta do horário de verão também funciona como um gesto para a sociedade sobre a importância de que todos contribuam para economizar energia.
Este já é o segundo pedido de empresários pelo retorno do mecanismo. O primeiro foi enviado em junho e contou com o suporte de empresários como Luciano Hang, dono das lojas Havan e apoiador do presidente, mas ainda não obteve retorno.
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Horário de verão economiza energia?
Desde que decidiu pela extinção do horário de verão, o governo alega que o mecanismo perdeu a sua utilidade. Mas nem todos os especialistas concordam com isso.
Segundo o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE), Ivo Dorileo, o horário de verão, de fato, deixou de gerar a mesma economia de anos atrás. Apenas em 2013, por exemplo, o mecanismo foi responsável por poupar R$ 405 milhões em energia elétrica, valor que caiu para R$ 147,5 milhões em 2016.
Entretanto, nos anos seguintes a economia de energia foi diminuindo, pois houve uma mudança no padrão de consumo dos brasileiros. Assim como o MME já havia destacado em seu estudo, Dorileo afirma que o horário de pico passou a acontecer na parte da tarde, por conta do alto uso de ar-condicionado
Por outro lado, diferentemente do que o governo diz, o presidente da SBPE ressalta que o horário de verão ainda oferece “benefícios claros” na economia de energia. Apesar de a diferença já não ser tão grande, a demanda ainda diminui entre 4% e 5% com o mecanismo.
Quem também defende que o horário de verão tem um impacto positivo no consumo de energia é o presidente da consultoria Thymos, João Carlos Mello. Em entrevista para a revista Galileu em 2019, Mello levantou um ponto que hoje atinge tons quase proféticos.
Na época, o presidente da Thymos disse que o fim do mecanismo aumentaria a demanda e as chances de ser necessário usar as usinas termelétricas, e que o horário de verão dá mais segurança ao sistema elétrico do país.
Hoje, o uso das termelétricas é um dos motivos para as bandeiras tarifárias estarem ainda mais caras, chegando a aumentar 58% em setembro, e a insegurança em relação ao sistema elétrico faz especialistas alertarem para o risco de apagão.
Fontes: UOL, Folha de S. Paulo e Revista Galileu.