Auxílio Emergencial de R$ 250 só cobre meia cesta básica em várias capitais
Após muitas especulações em torno do valor do novo auxílio emergencial, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou em live na última quinta-feira (25/02) que a proposta do governo é quatro parcelas de R$ 250, valor que não é suficiente para comprar metade de uma cesta básica em muitas capitais.
Apesar de o retorno do auxílio ser visto como indispensável nesse momento de agravamento da pandemia, e cobrado pelo Congresso desde o final do ano passado, especialistas afirmam que este valor é insuficiente.
Em diversas capitais do país, o valor de R$ 250 não é o bastante para comprar sequer metade de uma cesta básica. Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a forte inflação dos alimentos faz a proposta do governo ficar bem abaixo do suficiente para uma pessoa passar o mês.
Em Fortaleza, por exemplo, R$ 250 de auxílio emergencial corresponde a menos da metade do valor da cesta básica. De acordo com o superintendente regional do Dieese, Reginaldo Aguiar, o custo do conjunto de produtos essenciais na capital cearense está em torno de R$ 532,97.
Mas Aguiar destaca que esse valor é estimado para apenas uma pessoa. Ou seja, em uma família com dois adultos e uma criança, o custo básico de vida é de mais de R$ 1.500 por mês, algo muito acima do valor proposto pelo governo – e do próprio salário mínimo, que também deveria ser reajustado por causa da inflação.
Para o superintendente do Dieese, o auxílio emergencial é muito bem-vindo, mas está bem abaixo do suficiente para o problema ao qual se destina. Afinal, com esse valor, as pessoas mais atingidas pela pandemia não têm condições de conseguir o mínimo de alimentação e limpeza em seus lares.
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Outras capitais onde o auxílio emergencial só cobre meia cesta básica
Segundo levantamento do Dieese divulgado em janeiro, no ano passado o preço médio da cesta básica subiu em todas as 17 capitais pesquisadas pelo órgão. Além disso, o comprometimento médio do salário mínimo com o conjunto de alimentos necessários para uma pessoa adulta foi o maior em 12 anos.
Essa alta dos preços é sentida diretamente no bolso dos brasileiros, que veem alimentos básicos ficarem mais caros, enquanto o salário mínimo não acompanha.
Das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese, o menor aumento no valor da cesta básica foi em Curitiba, com 17,76%. Entretanto, o reajuste do salário mínimo para este ano é de apenas 5,26%, muito abaixo do necessário para dar conta da alta nos alimentos básicos.
Em relação ao auxílio emergencial, o valor de R$ 250 proposto pelo governo é menos da metade do preço médio da cesta básica em 12 das 17 capitais pesquisadas no decorrer de 2020. São elas:
- São Paulo – R$ 631,46 (preço médio da cesta básica);
- Rio de Janeiro – R$ 621,09;
- Porto Alegre – R$ 615,66;
- Florianópolis – R$ 615,57;
- Vitória – R$ 600,28;
- Brasília – R$ 591,82;
- Campo Grande – R$ 576,48;
- Belo Horizonte – R$ 568,53;
- Goiânia – R$ 563,80;
- Curitiba – R$ 540,36;
- Fortaleza – R$ 534,96;
- Belém – R$ 500,89.
Apesar de fechar 2020 como a capital com maior aumento observado no valor da cesta básica, Salvador ficou de fora desta lista. Mesmo com o preço dos itens básicos subindo 32,89% na capital baiana, com o provável valor do novo auxílio emergencial é possível comprar pouco mais do que meia cesta básica, pois o custo médio na cidade é de R$ 479,08.
As outras quatro capitais pesquisadas pelo Dieese fecharam o ano passado com os seguintes preços médios por cesta básica:
- João Pessoa – R$ 475,19;
- Recife – R$ 469,39;
- Natal – R$ 458,79;
- Aracaju – R$ 453,16.
Em 11 capitais, preço da cesta básica consumiu mais da metade do salário mínimo
Segundo o Dieese, São Paulo encerrou o último como a capital com a cesta básica mais cara do país (R$ 631,46), após uma alta de 24,67% no preço médio. O valor corresponde a 53,45% do salário mínimo vigente, que até dezembro era de R$ 1.045, e ainda é mais da metade do mínimo atual (R$ 1.100).
Tendo como base o salário mínimo de 2020, em 11 das capitais pesquisadas pelo Dieese o preço médio da cesta básica correspondia a mais de 50% do valor: de São Paulo à Fortaleza, conforme podemos conferir na lista acima.
De 2009 a 2019, isso aconteceu apenas em 2016, quando o comprometimento do mínimo com a cesta básica foi de 51,87%. De acordo com o Dieese, o salário mínimo deveria ser de R$ 5.304,90 para dar conta dos custos básicos de vida dos brasileiros. O valor é 5,08 vezes maior que o vigente.
Entretanto, a realidade do brasileiro é enfrentar fortes altas nos preços de alimentos básicos, enquanto o salário mínimo não teve aumento real nos últimos dois anos.
O Dieese destacou que os itens que mais subiram em todas as capitais pesquisadas são: carne bovina de primeira, derivados de leite, arroz agulhinha e o óleo de soja.