63% dos brasileiros acreditam que crise hídrica é culpa do presidente
Segundo pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, a maioria dos brasileiros acredita que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem culpa pela crise hídrica que o Brasil vem enfrentando nos últimos meses.
O levantamento mostra que 63% dos entrevistados avaliam que Bolsonaro tem muita responsabilidade (27%) pelo cenário crítico do setor elétrico ou um pouco de responsabilidade (36%). Enquanto isso, outros 34% acreditam que o governo não tem culpa pela crise hídrica.
No entanto, entre as pessoas que isentam Bolsonaro de culpa pela situação crítica que o país enfrenta na escassez de energia elétrica, a maioria avaliou o governo como ótimo/bom na mesma pesquisa, que foi realizada entre os dias 13 e 15 de setembro.
Apesar de esta ser a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, o governo chegou a minimizar o problema no começo. Segundo especialistas, a demora para anunciar medidas de enfrentamento é um dos principais motivos para o Brasil ainda correr risco de apagão.
Por conta disso, o Senado deve instalar nesta semana uma comissão temporária da Crise Hídrica para apurar falhas do governo na condução da crise. A comissão terá duração de 180 dias, e contará com senadores críticos a Bolsonaro entre os 11 titulares.
Nós vamos verificar se o governo deliberadamente deixou as hidrelétricas baixarem ao ponto que ficou muito caro acionar as outras alternativas ou se simplesmente negligenciou, não sabia o que estava fazendo”, explicou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria e autor do requerimento que criou a comissão.
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Causas da crise hídrica e energética no Brasil
Os principais motivos para a crise que vem atingindo o país são a falta de chuvas e a diminuição da capacidade de produção de energia das usinas hidrelétricas. Entretanto, especialistas destacam que há uma série de causas para a situação chegar ao nível atual, incluindo mudanças climáticas.
Segundo Ângelo José Rodrigues Lima, secretário-executivo do Observatório das Águas (OGA), a crise hídrica é reflexo de uma crise de governança. Lima destaca que o país não utiliza todos os instrumentos da sua Política Nacional de Recursos Hídricos, gerando uma desorganização que dificulta a antecipação de crises e conflitos pelo uso de água.
Além disso, o especialista também destaca que o governo federal vem desmantelando a gestão ambiental e mudou a gestão das águas, e que alguns governadores também desmontaram políticas ambientais.
Para o representante da OGA, quando levamos em conto o desmatamento, o modelo de produção agrícola, o manejo e uso do solo e a concentração de ocupação na área urbana, não dá para dizer que a culpa pela crise hídrica está na falta de chuva.
Nesse sentido, um dos senadores críticos a Bolsonaro que fará parte da comissão da Crise Hídrica no Senado, José Aníbal (PSDB-SP), destacou que a “liberação geral” por parte do governo e os crimes praticados pelo garimpo e por invasores de terra cobram o seu preço.
Na comissão, a expectativa é que as principais críticas sejam relacionadas à limitação da geração de energia por usinas térmicas no início de 2021, a falta de projetos de geração eólica e solar, a extinção do horário de verão e a falta de autonomia da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
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Aumento histórico na conta de luz
A escassez de água afeta seriamente as usinas hidrelétricas, que já chegam a operar com menos de 10% da sua capacidade. Por conta disso, o governo precisa acionar as usinar termelétricas, que além de serem mais poluentes também têm um custo maior.
O acionamento das termelétricas é comum em períodos de pouca chuva e levou a criação do sistema de bandeiras tarifárias. Nesse caso, quanto mais a produção de energia no país depende destas usinas, maior bandeira tarifária.
Entretanto, a atual crise hídrica chegou a um nível em que as bandeiras tarifárias não foram suficiente, e precisaram passar por mudanças. A mais recente foi a criação da “bandeira da escassez hídrica”, que é 58% maior que o antigo patamar mais alto, e representa um custo de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos.
Com os repetidos aumentos na conta de luz, a alta acumulada na tarifa em 2021 chegou a 16,07% em agosto, quase o triplo da inflação de 5,81% no mesmo período. Mas como o índice ainda não considera o aumento de setembro, o valor acumulado deve ficar ainda maior nos próximos meses.
Para piorar a situação, a tendência é que a pressão sobre a tarifa de energia permaneça no ano que vem. De acordo com a Aneel, a conta de luz vai ficar 16,7% mais cara em 2022.
Fontes: IG, Poder 360 e Um Só Planeta.