Governo quer acabar com o vale-gás para aprovar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família
Com dificuldades para encontrar espaço no Orçamento para instituir o Auxílio Brasil, programa que tem o objetivo de substituir o Bolsa Família, o governo tenta retirar de pauta o projeto do chamado vale-gás, um subsídio para que famílias de baixa renda possam comprar o gás de cozinha.
Apesar de a proposta do vale-gás ter partido do próprio governo, líderes governistas tentam convencer os parlamentares a não levarem o projeto adiante. Atualmente, o texto do projeto espera análise do plenário do Senado.
O vale-gás surgiu como uma promessa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após as sucessivas altas no preço do gás de cozinha, problema que ajuda a minar sua popularidade às vésperas de ano eleitoral. Mas agora o projeto preocupa a equipe econômica, pois pode atrapalhar um aumento no valor do novo Bolsa Família.
Segundo avaliação os líderes governistas, o espaço que pode abrir no Orçamento se o governo não precisar pagar integralmente os precatórios (dívidas judiciais) deve ser usado no Auxílio Brasil.
Entretanto, o autor do projeto que cria o vale-gás, senador Eduardo Braga (MDB-AM), não concorda com a alternativa governista. Conforme Braga, a situação dos precatórios “não está equacionada” e há um caminho claro para enfrentar o problema do gás.
Uma das sugestões do senador para bancar o programa é utilizar dividendos da Petrobras e recursos da cessão onerosa. Com isso, o custo total seria de aproximadamente R$ 6 bilhões por ano.
No entanto, os líderes governistas seguem com a mesma negociação para barrar o programa na Câmara dos Deputado, onde há outros projetos com o mesmo objetivo.
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Como funciona o projeto de vale-gás?
A proposta de um vale-gás ganhou força em agosto, depois de Bolsonaro ter sugerido que a Petrobras teria um fundo de R$ 3 bilhões para bancar o subsídio. Na época, o presidente não deu mais detalhes sobre o funcionamento do programa e foi desmentido pela estatal dias depois.
Mesmo assim, o projeto seguiu em frente e chegou ao Congresso, onde enfrenta este impasse após o governo mudar de ideia e deixa dúvidas se será implementado ou não.
Caso o texto seja aprovado e sancionado pelo presidente, o vale-gás irá beneficiar famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Conforme o texto do projeto, para ter direito ao benefício, será preciso ter renda familiar mensal de até meio salário mínimo (R$ 550) por pessoa, ou ter no grupo familiar alguém que receba o BPC (Benefício de Prestação Continuada).
Ainda de acordo com a proposta, as famílias beneficiadas receberiam o vale-gás do governo a cada dois meses, e o valor seria de 40% do preço médio do botijão.
A princípio, a ideia era que o benefício fizesse parte do Auxílio Brasil. No entanto, o governo logo mudou de discurso e começou a falar em pagar o vale-gás antes do novo programa assistencial. Nesse caso, o benefício seria entregue entre setembro e outubro, enquanto o Auxílio Brasil iniciaria em novembro.
Em meio às altas no preço do botijão, que atingiu níveis recordes em 2021 e passou de R$ 100 em algumas cidades, o assunto logo ganhou repercussão. Mas as dúvidas sobre de onde sairá o dinheiro seguem gerando um entrave no programa, problema que também afeta o Auxílio Brasil.
Tramitação do Auxílio Brasil
Principal “pivô” das tentativas do governo de barrar o vale-gás, o Auxílio Brasil também enfrenta problemas em sua tramitação.
Quando surgiu a proposta do novo programa, a ideia era que ele fosse uma espécie de “Bolsa Família turbinado”. Ou seja, um substituto com valor mais alto e mais beneficiários. Sobre o valor do benefício, por exemplo, Bolsonaro chegou a falar em parcelas R$ 400, o dobro dos atuais R$ 192.
No entanto, sem ter de onde tirar dinheiro para bancar o aumento, a equipe econômica logo começou a baixar as expectativas de aumento, projetando um valor máximo de R$ 290 sem inclusão de novas famílias no programa.
Mas para aumentar o orçamento do programa, é preciso abrir espaço no “teto de gastos”. Por conta disso, o governo depende da aprovação da chamada “PEC dos precatórios” para definir o valor do Auxílio Brasil. Caso contrário, pode ser que o reajuste sequer aconteça, e a única mudança do Bolsa Família seja no nome.
A proposta do Auxílio Brasil é tida como questão estratégica para a campanha do presidente em 2022. Afinal, além de aumentar o valor do benefício, a mudança de nome também desvincula a imagem do programa do ex-presidente Lula (PT), responsável pela criação do Bolsa Família e provável principal adversário de Bolsonaro nas eleições do próximo ano.
Fonte: Valor Econômico.