Brasileiros nunca receberam tão pouco: 30 milhões ganham um salário mínimo
Estudo revela que o Brasil atingiu mais um recorde preocupante em 2021. Além de o país já ter chegado à taxa recorde de 14,7% de desempregados, o número de brasileiros vivendo com até um salário mínimo é o maior já registrado.
Segundo levantamento da consultoria IDados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilio (Pnad), são 30,2 milhões de trabalhadores com renda de até R$ 1,1 mil por mês.
Desde que a série histórica iniciou em 2012, essa é a primeira vez que o índice ultrapassa a marca dos 30 milhões. Considerando a população ocupada no Brasil, o número representa 34,4% dos trabalhadores. Ou seja, mais de um terço dos brasileiros que trabalham recebem, no máximo, um salário mínimo.
De acordo com o autor do levantamento, Bruno Ottoni, o mercado de trabalho que as pessoas estão encontrando é diferente daquele que existia antes da pandemia. Isso porque muitas empresas faliram, e grande parte das vagas de emprego não existe mais.
Muita gente entra no mercado como conta própria ou informalmente, e essas pessoas tendem a ter um rendimento mais baixo do que aquelas que trabalham com carteira”, acrescentou o pesquisador do IDados ao G1.
Conforme destacado por Ottoni, a taxa de ocupação no Brasil teve leves aumentos nos últimos meses, mas foi puxada principalmente pela informalidade, que cresceu em 2021.
Nesse cenário, a pesquisa mostra que os brasileiros até podem conseguir algum tipo de trabalho, mas estão sendo mal remunerados. Além disso, nem sempre eles têm acesso a direitos trabalhistas.
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Salário mínimo perde ganho real e poder de compra dos brasileiros diminui
Enquanto o número de brasileiros vivendo com renda de até um salário mínimo atinge um patamar recorde, este valor vem rendendo cada vez menos.
Atualmente, por exemplo, o salário mínimo está abaixo da inflação acumulada em 2020, o que indica que o brasileiro perdeu poder de compra em comparação ao ano passado.
Além disso, nos últimos anos o valor do salário mínimo não teve o chamado “aumento real”, quando ele sobe acima da inflação. Desde que o atual governo tomou posse, o reajuste acontece seguindo apenas a inflação do ano anterior.
Mas sem o aumento real, o trabalhador não tem ganho em seu poder de compra, pois a alta serve apenas para compensar o aumento no custo de vida.
Entre 2011 e 2016, por exemplo, na política de reajuste adotada pelo governo Dilma Roussef (PT), o salário mínimo subia pela inflação e a variação do PIB (Produto Interno Bruto), garantindo ganho real para o trabalhador.
Entretanto, este modelo deixou de ser utilizado e deve continuar assim no próximo ano. No final de agosto, o governo federal enviou a proposta de reajuste do salário mínimo para 2022, indicando um aumento de apenas R$ 69 em relação ao valor atual: de R$ 1.100 para R$ 1.169.
Por outro lado, o valor ainda pode passar por novo reajuste, ainda sem ganho real. Isso porque a proposta considerava a previsão do Ministério da Economia para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de 2021, mas novas projeções já apontam para uma inflação ainda mais alta até o final do ano.
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Previsão para a inflação cresceu em todos os meses do ano
O número de trabalhadores vivendo com até um salário mínimo se torna ainda mais preocupante quando consideramos o aumento no custo de vida.
Nos últimos meses, o brasileiro sentiu no bolso o aumento no preço de diversos itens essenciais, como alimentos, gasolina, gás de cozinha e energia elétrica. Com isso, o poder de compra diminui, e nem sempre o salário mínimo dá conta de todas as despesas.
Nesse cenário, a expectativa do mercado financeiro para a inflação oficial do Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aumentou sucessivamente em 2021.
De acordo com o relatório “Focus”, divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (20), a projeção do mercado para a inflação de 2021 já está em 8,35%.
No início de janeiro, o valor estimado pelo mercado era de 3,32%, ou seja, menos da metade da projeção atual. Durante os meses seguintes, as previsões apenas aumentaram, e hoje é mais que o dobro da meta central do BC, que é de 3,75%.
Fonte: G1.